quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Violência


Violência contra a mulher. Primeiro eu vi a campanha aqui, no blog da Liliane. É um tema tão complexo, triste e cruel esse, não? Nem tinha muito o que falar, então só fui acompanhando, fazendo minhas leituras (na medida do possível) pelo twitter. Calhou de eu estar navegando e ver este post da Elise. Juntando com a biliografia que eu estava lendo pra prova do mestrado, um emaranhando de pensamentos me invadiu.

Reparem nos comentários do post da Elise, e em tudo o que a gente escuta na vida sobre esse tema. Escuta e fala, que fique claro, pois pensando nisso me dei conta de que eu mesma tinha um discurso muito parecido. Tudo se encaminha para a seguinte máxima: a mulher é culpada pela violência que sofre. Não estou falando da forma mais comum de culpabilização, a que é mais explícita, como aquele pessoal que diz dos estupros coisas do tipo: "Ah, mas também, olha a roupa que ela saiu, chama muito a atenção". Ou no caso das mulheres que apanham do marido: "Mas tem mulher que provoca! Não quer apanhar, então não enfrente, não bata".

A culpabilização que nós promovemos é bem mais sutil, e talvez por isso mais eficaz. Nós falamos: "Mulher, não se submeta. Se ele bateu uma vez, não vai mudar, saia de casa. A violência começa com gritos, passa para agressões físicas e depois pode chegar até mesmo à morte". Nos comentários do post, tem uma menina que fala que "No final das contas, as mulheres são vítimas delas próprias", e outra ainda que diz da "insistência" de uma conhecida em permanecer namorando um homem que bate nela.

O que é que está nas entrelinhas? Que a mulher foi burra de não perceber o que isso ia se tornar logo no começo, e é fraca para se livrar da situação hoje. Nos livros que eu estava lendo para a prova, tem uma discussão sobre a individuação, sobre como essa ferramenta é privilegiada para nossa sociedade de controle. Tentando resumir em poucas linhas não-acadêmicas: há um movimento de responsabilizar individualmente as pessoas por suas tristezas e fraquezas. A conjuntura social, momento histórico, organização política ficam quase de fora. Podem até entrar na discussão, mas, em última instância, o responsável é você por aquilo que te faz insatisfeito. Você é quem deve correr atrás, você tem que buscar sua felicidade. Com a discussão sobre a violência contra a mulher não é diferente - todas as campanhas têm esse teor: seja forte, seja inteligente, denuncie, fuja.

Há tantos, mas tantos fatores envolvidos nessa questão! Confesso que não tenho uma opinião formada sobre isso, ainda acho estranho uma mulher se submeter a isso, ainda é um esforço para mim tentar pensar de um jeito diferente desta lógica de responsabilização. Claro que há elementos envolvidos que são da ordem do desejo, mas há muitos outros também. Será que as campanhas deveriam ser essas? Será que é por aí, "conscientizar" as mulheres a respeito da violência que sofrem e incentivá-las a denunciar os agressores? Será que alguém no mundo precisa ser conscientizado de uma violência que sofre na pele?

Tendo a achar que não. As medidas a ser tomadas deveriam ser num âmbito mais político, menos assistencial. Sem desprezar nenhum dos fatores envolvidos, deveríamos parar de responsabilizar as mulheres individualmente por sofrerem violência, porque é isso que fazemos. Fazemos sim. Quando a gente fala da "Violência contra a mulher", como uma instância bem afastada, a gente (às vezes) coloca a discussão de uma forma mais geral. Mas quando a gente fala da Celinha*, que mora ali na rua de trás, é super de bem com a vida, bonita, poderia trocar de marido mas continua com o que bate nela de vez em sempre, bêbado, o que a gente diz é "Nossa, como ela é louca! Se fosse eu não aguentava! Isso é burrice dela, ela podendo sair de casa..."

*Nome e história totalmente ficctícios.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Confissão + micropoder + selo


Preciso confessar uma coisa: eu não levo a internet a sério. Não estou dizendo que a internet não pode ser uma coisa séria, não é isso - EU não consigo levar a sério, e acho que estou papando uma mosca bonito por causa disso.

Hoje em dia, todo mundo sabe qual o alcance que a internet pode atingir, isso ficou muito claro nas últimas eleições. E isso é só o começo, eu acredito que daqui a poucos anos o principal veículo de comunicação será a internet. Nada de televisão, jornais, rádio, nada dessa imprensa velha, por um motivo simples: a internet reúne tudo isso em um só lugar, com a vantagem de ser totalmente móvel e versátil. Você assiste o que quer, na hora que quer, de onde estiver. Esqueceu de comprar o jornal ontem? Não faz mal, leia na internet. Está fora do país, perdeu a novela, o noticiário? Internet. Minha previsão leiga é que em pouco tempo o número de conteúdos produzidos exclusivamente para a internet vai aumentar bastante, ao mesmo tempo em que a portabilidade da internet vai disparar - hoje os celulares com esta opção já estão baratos e os planos acessíveis, imagina daqui a cinco ou dez anos.

Consequentemente, o poder de um veículo que tem todo esse alcance vai ser algo surreal. O que a TV tem hoje de formadora de opinião, a internet vai ter em escala absurdamente maior, o que, claro, pode ser perigosíssimo. Hoje dependemos da internet para tudo, de comunicação com os amigos a trabalho, de entretenimento a informação. Os poderosos não são burros, já repararam nisso e se utilizam de artimanhas sinistras. Já viu as propagandas no Gmail? Dependendo do que está escrito no corpo do seu e-mail, os links de propaganda do lado direito dão sugestões diferentes. Repara só: eu tenho um e-mail sobre tatuagens na caixa de entrada, e ao lado um monte de propaganda de estúdios e tatuadores. Tenho outro e-mail sobre um livro que tô querendo comprar, e tome propaganda de livrarias. Fora, claro, alguns sites de conteúdo duvidoso, "formadores de opinião", como acontece com a TV hoje.

Somos sutilmente bombardeados por esse tipo de coisa, e isso tem um efeito muito mais poderoso do que, por exemplo, os antigos pop-ups que saltavam a cada página aberta. Por que eles sumiram? Aquilo irritava, atrapalhava, só chamava atenção a quem já estava interessado antes no seu conteúdo. Diferente de links despretensiosos ali, na lateral do seu e-mail, que muitas vezes você nem vai ler com atenção, vai só passar os olhos, não vai se dar conta deles, e em determinado momento vai ser convencido daquilo, pensando que foi idéia sua, já que você sequer vai lembrar que existia tal link em algum lugar.
Nós estamos assistindo o início de uma mudança significativa na informação, no marketing e nas comunicações. Nem sei onde isso vai parar, e sinceramente me assusta.

A despeito disso tudo, eu ainda não consigo levar a sério a internet. É só ver, por exemplo, a lista de blogs ali do lado ou quem eu sigo no twitter. 45% do meu tempo é gasto vendo coisas relacionadas a humor, outros 45% lendo sobre cosméticos, maquiagem e outras bobagens do tipo, e apenas 10% fazendo alguma coisa que preste, tipo lendo e-mail, jornal, fazendo alguma pesquisa ou lendo blogs sérios.

Se eu não tenho hábito de ler sobre assuntos sérios, o que posso dizer sobre escrever?? Esse meu blog pode ser tudo, menos sério. Falo sobre temas aleatórios e cotidianos, como se eu tivesse tomando um suco ali na esquina com uma amiga. E eu gosto disso, sabe, de sérios já bastam o emprego e os textos acadêmicos que tenho que ler e escrever. Internet pra mim é desopilar e procrastinar. Nada mais.

Sendo assim, qual não foi minha surpresa ao ver que uma mulher séria, mãe de família, engajada, politizada, que consegue até andar sozinha de metrô com os dois filhos (tudo bem que ela caiu, mas isso não vem ao caso) num país frio e distante como a Liliane me indicou o seguinte selo:

O selo, Prêmio Dardos é o reconhecimento aos ideais que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais etc., que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, e suas palavras. Esse selo foi criado com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, sendo uma forma de demonstrar o carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web.
As regras do selo são as seguintes:
1. Exibir a imagem do selo no blog, esta que ilustra o post;
2. Revelar o link do blog que me premiou;
3. Escolher blogueiros pra premiar.

Haha, não sei qual o valor que meu blog agrega à Web, mas quem sou eu pra contrariar!! Aí eu tenho que escolher blogueiros pra premiar também, e puxa! Como é difícil! Resolvi escolher alguns que podem não falar de assuntos considerados sérios a princípio, mas que levam muito a sério a sua proposta e me transmitem um monte de conhecimento legal. São eles:

Technicolor Kitchen - Ela tem um capricho todo especial com as suas receitas, e principalmente com a transmissão delas! Não é daqueles blogs que dizem "olha só o que eu fiz", é daqueles que incentivam, dão todos os detalhes pra você também poder fazer. E as fotos são de babar!

Põe um batonzinho - O que ela se propõe a fazer, faz muito bem. Um papinho de comadre, despretensioso, bem pra relaxar, sabe? Desde aquele creminho até aquele vídeo engraçado que ela achou na internet!

Nossa, tantos outros... cada um que está ali ao lado eu leio sempre, e adoro, e acho que merecem esse selo. logo, estão todos indicados!!